Pular para o conteúdo

A Benção do Olhar Imparcial na Vida

17/07/2016

Recentemente tenho tentado colocar uma coisa interessante em prática: observar e reconhecer as coisas imparcialmente.

Obviamente, não estou falando de olhar para as coisas ou de parar para prestar atenção, ainda que requeiram certo cuidado e certa habilidade, cada um a seu modo. Estou falando de não ter uma reação de reflexo às coisas.

O exercício básico que descobri é observar a reação das pessoas com as coisas que elas gostam e nossa reação a essas coisas. Isso é especialmente interessante quando não gostamos de algo que alguém gosta e, em um nível menor, quando somos indiferentes a algo. É muito fácil entendermos alguém que gosta de algo que gostamos, ainda que não goste da mesma maneira. Mas e entender o gosto de alguém que ama algo que odiamos?

Reparar nisso requer tirar várias camadas de reações prontas. Vou dar um exemplo pessoal: rádio AM. Em especial, futebol em rádio AM. Eu não ligo para futebol, especialmente em rádio, e o som das AMs sempre me incomodou por diversos motivos. Meu pai adora futebol e adora rádio (ainda que prefira ver seus jogos na televisão). Em uma curta viagem de carro ao som ininteligível de um jogo em uma AM eu comecei a pensar em tudo que havia de camadas de coisas que eu desgostava e seus motivos.

Eu pensei que muito do meu tédio com as rádios era por lembranças tediosas de infância, por exemplo, que era uma época que, por motivos bem específicos, eu tinha longos passeios semanais de carro com esse tipo de rádio sintonizada. Outro ponto era de uma leve irritação em relação à febre do futebol, que é algo que nunca entendi. Outro ponto, finalmente, era a qualidade da rádio.

O que eu fiz, então, foi racionalizar cada um dos pontos: o tédio da infância existe apenas por costume e eu não passo por aqueles mesmos passeios. A febre do futebol vai existir independentemente da minha opinião dela, então eu posso apenas escolher continuar evitando-a e ficar feliz sem ela. Finalmente, a questão da rádio… bem, continuo achando AM um lixo, mas cheguei à conclusão de que não iria morrer em um breve passeio porque estava ouvindo os ruídos e chiados infinitos. E tudo ficou bem mais leve.

O mais legal é que outras coisas começaram a ficar mais leves. Eu notei que a partir do momento que começamos a reparar nessas coisas, isso se expande para tudo na vida. Nós começamos a ter um controle maior de nossas reações para tudo, o que nos permite analisar coisas que antes dávamos como certas por seja lá que motivo for.

Por que é que não gostamos quando alguém faz algo? Por que é algo que nos é enfadonho ou irritante deve suscitar de nós uma reação?

Não estou falando para nos tornarmos inúteis e passivos frente às coisas que não concordamos ou que não gostamos, mas sim que entendamos que boa parte dessas coisas não vão mudar por essas nossas reações, e muitas delas, se tentarmos agir para mudá-las, vão prejudicar outras pessoas desnecessariamente.

Eu não tenho direito algum de querer acabar com as AMs ou com o futebol por não gostar deles. Eu não tenho direito de controlar ou mudar a aparência, a opinião ou os hábitos de alguém por não gostar deles (desde que, convenhamos, estes estejam dentro de leis razoáveis). Por isso, vou continuar fazendo esse exercício para que minha cabeça entenda que realmente é bem mais legal ter essa tranquilidade e aceitar melhor os outros.

E é isso.

From → comportamento

Deixe um comentário

Deixe um comentário